A Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Mato Grosso (AGER-MT) aprovou, no dia 13 de junho, um reajuste de 20,27% na tarifa intermunicipal que liga Cuiabá a Várzea Grande. Com o aumento, o valor da passagem passou de R$ 4,95 para R$ 5,95. A medida foi baseada em parecer jurídico e análises técnicas das superintendências da agência.
Inicialmente, o novo valor começaria a ser cobrado na segunda-feira, 23 de junho, mas, devido a um atraso na atualização do sistema de bilhetagem por parte da concessionária, a cobrança efetiva começou no dia seguinte.
Durante participação no podcast Boa Tarde Mato Grosso com Luizão, o presidente da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo de Mato Grosso (ASSUNT), Pedro Aquino, se posicionou contra o aumento da tarifa e afirmou que acionará o Ministério Público do Estado (MPE) para tentar reverter o reajuste superior a 20%. Segundo ele, a responsabilidade pelo acréscimo no valor da passagem não deve recair sobre a população, mas ser assumida pelo governo estadual, por meio de subsídio, para não penalizar os trabalhadores que dependem do transporte diariamente.
Aquino também criticou a qualidade do serviço oferecido e advertiu sobre o risco de um efeito em cadeia, com impacto também nas tarifas municipais. “Isso vai ter um efeito dominó. Aumentando o intermunicipal, vão querer aumentar o municipal de Várzea Grande, o de Cuiabá, embora o prefeito tenha garantido que não irá aumentar. Mas vai haver grandes pressões dos empresários. Então, acredito que poderá aumentar, sim”, afirmou.
De acordo com o presidente da ASSUNT, entre 80 mil e 90 mil pessoas utilizam diariamente as linhas intermunicipais entre as duas cidades. Ele também mencionou que, inicialmente, havia a expectativa de que o valor subisse de R$ 5,95 para R$ 6,95 a partir de 23 de junho. Contudo, até o momento, essa nova tarifa ainda não foi implementada.
“Entramos em contato com o presidente da AGER, e ele nos informou que há três anos não havia reajuste na tarifa. Mas esse aumento está muito acima da inflação. Ele mencionou os impactos causados por buracos na cidade e obras que geram atrasos. Mas isso não é culpa do usuário, é culpa do Estado”, rebateu Aquino.
O dirigente reforçou que a associação ingressará com uma ação no Ministério Público, alegando que a população tem sido penalizada injustamente. “Por vários fatores – obras, buracos, com usuários tendo que acordar até 4h da manhã para pegar ônibus – o governo, mesmo com o aumento, precisa subsidiar esse valor. Precisamos tirar esse peso das costas do usuário”, disse Aquino.
Em uma pesquisa recente com passageiros que utilizam diariamente o transporte público intermunicipal, Rafael Castro, de 23 anos, que usa o transporte público para trabalhar e estudar, comentou: “Agora vai ser bem complicado para mim, pois às vezes preciso pagar passagem a mais. Tem dias em que preciso me locomover em mais de dois lugares e não tem como fazer integração”.
Izabel Oliveira, de 19 anos, moradora de Várzea Grande e estudante da Universidade Unic, em Cuiabá, ficou surpresa com o reajuste. “Nem sabia do aumento, fiquei sabendo agora com você. Eu nem reparei quando passei meu cartão na catraca, foi no automático”, relatou.
Até mesmo motoristas do transporte público disseram ter sido pegos de surpresa com o aumento. Um condutor, que preferiu não se identificar, criticou a falta de comunicação do governo. “Agora imagina com que cara eu fico quando os passageiros perguntam sobre o aumento e eu fico tão surpreso quanto eles. Não tem nenhum aviso, nenhuma informação para a gente sobre essa tarifa. Isso é descaso total com a população, que separa o seu dinheiro suado para a passagem e agora acaba no meio do mês.”
Segundo a AGER, o reajuste foi necessário para recompor o equilíbrio econômico-financeiro do serviço, devido ao aumento dos custos operacionais nos últimos três anos, incluindo combustíveis, peças, pneus, manutenção e salários. A agência destacou que, mesmo com o novo valor, o passageiro ainda paga menos do que o custo real do serviço. A tarifa de remuneração da concessionária subiu de R$ 7,50 para R$ 8,78, sendo que o governo estadual continuará subsidiando parte do valor, com um aporte de R$ 2,83 por passageiro.
A AGER também determinou que o consórcio responsável pelo transporte apresente um novo quadro de horários para garantir o cumprimento da quilometragem mensal contratada e que um relatório técnico sobre a operação seja entregue em até 45 dias.