30 de Junho de 2025

ENTREVISTA DA SEMANA Segunda-feira, 30 de Junho de 2025, 10:38 - A | A

Segunda-feira, 30 de Junho de 2025, 10h:38 - A | A

ABÍLIO

Sem rodeios, prefeito responde à oposição e reafirma confiança na secretária de Saúde

“Não tenho a menor intenção de retirar a Lúcia”

Lucas Leite | Redação

Em meio a desafios herdados da gestão anterior, questionamentos da oposição e cobranças até mesmo de aliados, o prefeito de Cuiabá, Abílio Júnior, concedeu entrevista ao Centro Oeste Popular para fazer um balanço das principais ações da sua administração na área da saúde. A conversa abordou temas sensíveis e de grande repercussão pública, como a denúncia de falta de medicamentos nas unidades básicas, o fechamento de farmácias, a polêmica saída do consórcio intermunicipal de saúde e os atrasos nos pagamentos a fornecedores da gestão passada.

Abílio também explicou os critérios para a realização de eventos em espaços públicos, após suspender um jogo beneficente por questões de segurança, medida que gerou críticas nas redes sociais, e detalhou o projeto Cuiabá Fitness, que promete aliar o uso de medicamentos para emagrecimento ao incentivo à prática de atividade física com acompanhamento profissional.

Com um discurso direto, o prefeito reforçou sua decisão de manter a condução técnica da Secretaria Municipal de Saúde e respondeu às críticas de parlamentares que cobram mais articulação política na pasta.

Centro Oeste Popular- Vereadores da oposição, e até mesmo da base aliada, têm utilizado a tribuna da Câmara para fazer críticas contundentes à atuação da Secretaria de Saúde de Cuiabá. Como o senhor responde a essas críticas, especialmente vindo de aliados que, teoricamente, deveriam estar alinhados à gestão?

Abílio- Bom, primeiro é importante destacar que colocamos a Secretaria de Saúde como um órgão técnico, e não político. A Secretaria de Saúde não tem atuação política; ela é voltada para a parte técnica.

Hoje, a forma de condução da Secretaria de Saúde é diferente do que era no passado. Alguns vereadores gostariam que a pessoa à frente da pasta tivesse um perfil mais político, mas a Lúcia, que é a atual secretária de Saúde, tem um perfil mais técnico.

Ela é uma pessoa capacitada, coerente, e está fazendo o melhor dela em uma das pastas mais difíceis do nosso município. E isso tem trazido melhorias e resultados concretos.

Por exemplo, conseguimos reduzir significativamente o tempo de atendimento nas UPAs. Para você ter uma ideia, eu acabei de olhar os dados da UPA da morada do ouro, hoje, numa terça-feira, conseguimos reduzir em mais de 40% o volume de atendimentos ali. Isso se deve ao fato de que, depois de muito trabalho e enfrentamentos, as pessoas passaram a procurar mais as unidades básicas de saúde.

Só para vocês terem uma ideia, vou mostrar aqui ao vivo. Vocês que já foram várias vezes nas UPAs, inclusive na UPA do Morada do Ouro, vejam só: agora, numa terça-feira, ela está praticamente vazia. Você já tinha visto isso antes, numa terça-feira? Ou mesmo numa segunda-feira?

Isso mostra que estamos colhendo resultados do nosso trabalho, do esforço da gestão da Secretaria de Saúde. As unidades básicas de saúde estão atendendo melhor, os medicamentos necessários acabaram de chegar, mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos, inclusive uma forte pressão e até chantagem de alguns fornecedores.

Temos uma dívida enorme herdada da gestão passada, especialmente na área da saúde. Mas estamos enfrentando isso e resolvendo, passo a passo.
Não tenho nenhuma intenção de tirar a Lúcia da Secretaria. Sei que é natural que um ou outro vereador esteja insatisfeito com a forma de atendimento ou com o posicionamento da secretária, mas reforço: não tenho a menor pretensão de substituí-la.

Quando houver insatisfação, vou conversar diretamente com o vereador, que é parceiro da nossa gestão, para entender melhor: qual é a insatisfação? O que ele gostaria que fosse feito? A parte política, ele trata comigo. A parte técnica, a Secretaria de Saúde está aí para resolver.

Centro Oeste Popular- Vereador Daniel Monteiro denunciou recentemente o fechamento da farmácia da Unidade de Saúde do Terra Nova, alegando que o motivo seria a falta de funcionários. Diante disso, há dificuldades concretas na contratação de pessoal para suprir essas demandas? Existem lacunas estruturais ou entraves administrativos que estejam impedindo o pleno funcionamento das unidades básicas de saúde?

Abílio- Acho que houve uma desinformação da parte dele. Peço a qualquer jornalista que vá até a Unidade de Saúde do Terra Nova e confira pessoalmente: não está fechada. O que acontece é que, infelizmente, alguns servidores tiram férias, e aí precisamos encontrar substitutos para cobrir essa ausência, o que, às vezes, não conseguimos de imediato. Alguém divulgou um print na internet dizendo que a unidade estava fechada, mas isso não corresponde à realidade. Reforço: a unidade não está fechada. Não está fechada.

Centro Oeste Popular- Há muitas reclamações da população sobre a falta de medicamentos nas unidades básicas de saúde. O que está sendo feito, de forma concreta, para resolver esse problema? O fornecimento já foi normalizado ou ainda há dificuldades no processo de compra e distribuição?

Abílio- Estamos em processo de regularização. Os itens mais importantes, os de maior necessidade, já foram abastecidos. Outros, em casos de urgência, estamos adquirindo pontualmente, mas ainda estamos nessa fase de ajuste e reposição completa. Foi realizado um pregão, o Pregão nº 004/2025. Esse pregão é público e transparente, aconteceu de forma virtual, não em sala fechada, justamente para que todos pudessem acompanhar. As empresas vencedoras do certame têm um prazo legal para realizar as entregas. Infelizmente, esse é um processo que exige cumprimento dos prazos estabelecidos, e as entregas estão sendo feitas gradualmente.

Centro Oeste Popular- O senhor optou por sair do consórcio intermunicipal de saúde, mesmo com o argumento de que compras em bloco poderiam garantir preços mais baixos. Por que essa decisão foi tomada? O consórcio não oferecia, de fato, a possibilidade de economia por meio da compra em maior escala?

Abílio- Não, porque a compra em maior escala, o chamado “atacado”, quem faz é o município de Cuiabá. Qual outro município da Baixada compra em volume maior que o nosso? Somos nós que proporcionamos essa vantagem ao consórcio, ajudando a reduzir os preços nas compras coletivas.
Sem Cuiabá, o consórcio não compra mais barato, ao contrário, passa a comprar mais caro. Então, sim, a nossa saída prejudicou o consórcio e os demais municípios que dele fazem parte. Mas eu não posso continuar em um consórcio com práticas que não concordo.

Para citar um exemplo: compraram uma cadeira de rodas para o município de Cuiabá no valor de R$ 4.200, sendo que ela não valia mais de R$ 1.000. Fizemos pesquisa de preço e denunciamos. O consórcio tem um histórico de compras irregulares com as quais não compactuamos.

Já conversei com o presidente atual, com o ex-presidente e com o ex-gestor do consórcio. Deixei claro que não temos interesse em continuar participando. A resposta que recebemos foi que eles não pretendem mudar. Então, seguimos o nosso caminho. Não vamos fazer parte desse processo.
O que eu defendo é um consórcio formado pelos grandes municípios. Os pequenos podem, sim, aderir, mas não devem presidir nem administrar o consórcio.

Não faz o menor sentido um município com 25 ou 30 mil habitantes presidir um consórcio que atende uma capital como Cuiabá, com mais de 700 mil habitantes, e com Várzea Grande ao lado, que tem mais de 400 mil. Isso não tem lógica alguma.

Nossas compras são volumosas, complexas e exigem uma gestão técnica e estruturada. E, infelizmente, o consórcio, da forma como está hoje, não oferece nenhum ganho real. Ele segue exatamente a mesma legislação que seguimos aqui. O que garante volume e menor preço é Cuiabá, não o consórcio.

Agora, se o Governo do Estado quiser subsidiar esse consórcio, quiser gerenciar e ajudar os municípios menores, ótimo, que o faça. Mas nós, Cuiabá, não vamos mais participar.

Centro Oeste Popular- Há fornecedores de medicamentos com pagamentos pendentes referentes à gestão do senhor Emanuel Pinheiro. O senhor tem previsão para quitar essas dívidas?

Abílio- Em todos os casos, estamos elaborando um plano de pagamento, que consiste no parcelamento dessas dívidas, tanto na área da saúde quanto em outras áreas. Esse parcelamento é escalonado, para que possamos diluir a dívida ao longo deste ano e do próximo.

Centro Oeste Popular- Prefeito, o senhor proibiu a realização de um jogo beneficente alegando falta de segurança pública e, em sua declaração, chegou a comparar a situação com práticas associadas a Pablo Escobar. Diante disso, os organizadores remarcaram o evento para o próximo fim de semana. Caso o evento esteja regularizado até lá, a prefeitura vai permitir sua realização ou manterá a proibição?

Abílio- Não há nada que impeça a realização de um evento que esteja devidamente regularizado. Mesmo que a solicitação venha de alguém com índole duvidosa, se todos os requisitos forem cumpridos, o evento será autorizado. A prefeitura não faz checagem de CPF ou antecedentes criminais de quem solicita a liberação de um espaço público.

Se for do interesse da comunidade a realização de um evento beneficente, ele vai acontecer naturalmente. E, claro, terá presença policial, como ocorre em outros eventos. Acredito que não há nada a temer.

São pessoas de bem, trabalhadores, que querem ajudar a sociedade. O objetivo é fazer o bem à comunidade, como por exemplo doar cestas básicas.
Ter a presença de dez viaturas da polícia no local não será um problema, ao contrário, vai trazer mais segurança para todos os envolvidos. Vai garantir, inclusive, que ninguém interfira ou prejudique a ação solidária.

E mais: os cidadãos de bem, os influenciadores, poderiam até gravar seus conteúdos junto com a presença da polícia, para mostrar que são pessoas corretas, que apoiam a atuação da Polícia Militar e defendem os bons cidadãos.

Centro Oeste Popular- Prefeito, ganhou grande repercussão a discussão sobre os medicamentos para emagrecimento em Cuiabá. A Anvisa publicou uma nova determinação autorizando o uso das chamadas 'canetas emagrecedoras'. Diante disso, como a Prefeitura de Cuiabá pretende acompanhar e regulamentar o uso desses medicamentos na rede municipal de saúde?

Abílio- Primeiro, é importante esclarecer que nenhum desses medicamentos para emagrecimento está regulamentado pelo SUS. Ou seja, eles não fazem parte do rol de medicamentos gratuitos distribuídos pelo Ministério da Saúde por meio do SUS.

Para que possam ser adquiridos, é necessário, por exemplo, o uso de emendas parlamentares. Pela política pública convencional, a compra de medicamentos na rede pública deve seguir listas como a RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) ou a REMUME (Relação Municipal de Medicamentos Essenciais), que orientam a aquisição desses itens.

No entanto, uma emenda parlamentar pode direcionar recursos para a compra de medicamentos específicos, mesmo que não estejam incluídos nas listas do SUS. E agora, com a regulamentação recente da Anvisa, esses medicamentos, como as chamadas "canetas emagrecedoras” podem ser adquiridos legalmente, desde que haja fonte de custeio.

Mesmo não estando no rol oficial do SUS, a partir do momento em que estão regulamentados pela Anvisa, é possível comprá-los com verba de emenda e distribuí-los por meio de serviços de saúde regulamentados, como os programas de acompanhamento ao emagrecimento.

Estamos desenvolvendo um programa, que provavelmente se chamará "Cuiabá Fitness". A intenção não é apenas distribuir medicamentos como Mounjaro, Ozempic ou similares, mas oferecer um acompanhamento integral à população.

Para muitas pessoas, esse acompanhamento médico com o uso de medicação pode ser mais eficaz e menos invasivo do que procedimentos como a cirurgia bariátrica. Além de mais barato, o tratamento com essas medicações tende a ter menos efeitos colaterais e, com acompanhamento adequado, pode trazer resultados duradouros.

Mas o programa Cuiabá Fitness vai além do uso de medicamentos. Queremos estimular a prática de atividade física, com ações nos parques, nas unidades básicas de saúde, e com o apoio de profissionais de educação física.

Essa é uma proposta que nasceu na campanha, e que agora será implementada na nova estrutura da Secretaria de Saúde, onde vamos criar o Centro de Emagrecimento.

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