08 de Julho de 2025

GERAL Terça-feira, 08 de Julho de 2025, 16:01 - A | A

Terça-feira, 08 de Julho de 2025, 16h:01 - A | A

MIGRAÇÃO INTERNA

Mato Grosso atrai milhares de brasileiros em busca de oportunidades

Estado figura entre os que mais recebem migrantes do país; maioria vem do Maranhão, Pará e Rondônia. Cuiabá lidera como destino preferido.

Maria Cardoso | Redação

A combinação de terras produtivas, crescimento econômico acelerado e demanda por mão de obra tem feito de Mato Grosso uma das principais rotas de migração interna no Brasil. Segundo o Censo 2022 do IBGE, o estado teve um saldo migratório positivo de mais de 103 mil pessoas entre 2017 e 2022, ficando entre os cinco estados que mais receberam moradores de outras partes do país.    

O movimento é silencioso, mas constante. Por trás dos números, estão histórias de superação, esperança e reconstrução. A maioria dos novos moradores vem do Maranhão, Pará, Rondônia, Piauí e também de São Paulo, em busca de melhores condições de vida, principalmente no setor agropecuário, construção civil e serviços urbanos.    

Além desses lugares, outros estados vizinhos como Goiás, tem se migrado aqui em Mato Grosso, onde plantou suas raízes e se sentiu abraçado pelo o estado, gerando um conforto mesmo sendo quase vizinhos.  À exemplo disso, está o Geovane Pereira, que saiu do interior de Goiás e hoje mora há mais de 40 anos no Rio Manso em Cuiabá.    

“Sai de Goiás quando tinha 16 anos e vim morar no Rio Manso, isso em 1982, logo depois meus pais vieram. Fomos praticamente os pioneiros da região”, lembra Geovane, hoje com 62 anos. A memória ainda viva daqueles tempos difíceis é carregada de orgulho. “Naquela época, tudo era muito difícil, a estrada era de chão e às vezes levava um dia inteiro para chegar”, recorda, ressaltando o isolamento e os desafios enfrentados por quem decidiu construir vida nova no interior mato-grossense.    

Geovane fala com admiração sobre a trajetória da mãe, figura central na história da família e da comunidade. “Minha mãe se encontrou na profissão dela aqui, fez curso e se tornou professora, trabalhou por anos até se tornar vereadora por anos”, conta, orgulhoso. A atuação dela foi além da política: “Ela também criou a primeira associação de pequenos produtores, trouxe o plantio de algodão, ajudou a implantar o cultivo de banana, e conseguiu máquinas para beneficiar o arroz, que antes só limpavam no pilão”.    

Com empenho e liderança, a mãe de Geovane foi fundamental para o desenvolvimento local. “Além disso, criou a Associação das Mulheres, trouxe médicos, postos de saúde, e até implantou agentes de saúde, que andavam a pé ou a cavalo para atender a comunidade”, acrescenta. A força dessa mulher marcou gerações e se reflete até hoje no respeito e carinho que a população nutre por ela. “Minha mãe foi uma guerreira, muito respeitada e querida até hoje. Ela sempre lutou e ainda luta pelo progresso da região, correndo atrás das autoridades para conseguir melhorias”.    

Ao olhar para o presente, Geovane reconhece o quanto a história da família está entrelaçada com a do próprio Rio Manso. “Tudo que o Rio Manso é hoje, com essa beleza e desenvolvimento, devemos muito ao esforço dela e da nossa família que ajudou a construir essa comunidade desde o começo”, afirma. Para ele, não há dúvida sobre seu pertencimento: “Hoje me sinto mato-grossense. Aqui é onde minhas filhas nasceram, onde consegui trabalhar e crescer. Não penso em voltar”, conclui com firmeza e gratidão.     

Os dados revelam que essa migração tem caráter predominantemente econômico. Municípios como Sorriso, Lucas do Rio Verde, Rondonópolis e Sinop também recebem um fluxo intenso de trabalhadores que chegam para atuar em fazendas, frigoríficos e transportadoras.    

A cidade de Cuiabá, por sua vez, tem se consolidado como um polo de acolhimento urbano. É onde chegam muitas famílias em situação de vulnerabilidade, que buscam trabalho informal ou acesso a serviços públicos de saúde e educação. Segundo o IBGE, cerca de 25% da população cuiabana atual não nasceu em Mato Grosso.    

Além da migração interna, Mato Grosso também acolhe estrangeiros, principalmente venezuelanos, haitianos e bolivianos, que representam entre 10 mil e 15 mil pessoas vivendo no estado. No entanto, o volume de brasileiros de outros estados supera amplamente o número de imigrantes internacionais.    

A estrutura pública ainda tenta se adaptar à nova realidade. Escolas municipais têm ampliado vagas, enquanto serviços de saúde vêm enfrentando pressão pelo crescimento populacional nas periferias urbanas. Mesmo assim, o saldo para o estado é considerado positivo.    

Com mais de 3,7 milhões de habitantes, o estado segue crescendo acima da média nacional, impulsionado por sua força agrícola, mas também pelo dinamismo urbano. E para quem chega, o sentimento é claro: Mato Grosso virou sinônimo de chance.

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