09 de Maio de 2025

OPINIÃO Sexta-feira, 09 de Maio de 2025, 11:49 - A | A

Sexta-feira, 09 de Maio de 2025, 11h:49 - A | A

FÁBIO

Publicar é assumir riscos

Fábio Monteiro*

Na velocidade de um clique, uma imagem, uma legenda ou um vídeo pode escapar do controle e se tornar pública de uma forma irreversível. Vivemos tempos em que as redes sociais se tornaram uma extensão da nossa identidade. E embora esse espaço tenha se consolidado como ferramenta de expressão, conexão e até de mobilização, ele também se tornou um campo minado para a reputação, seja para as pessoas quanto as instituições.

Recentemente, viralizou o vídeo de duas estudantes de medicina publicado no TikTok, em que ironizavam a história de uma jovem paciente que havia passado por três transplantes de coração e um de rim. A paciente, que infelizmente faleceu, foi retratada de forma desrespeitosa, em tom de brincadeira, por alunas que estavam em um ambiente hospitalar, representando não apenas a si mesmas, mas também as instituições que as formam e o próprio exercício da medicina.

O caso gerou indignação nacional. Familiares registraram boletim de ocorrência, o Ministério Público foi acionado e as estudantes enfrentam agora uma denúncia formal, além de processo de indenização da família. Mesmo com pedidos de desculpas, o estrago está feito. E aqui mora a reflexão: quando a reputação é atingida, nem sempre há caminho fácil para reparar os danos.

Outro exemplo recente foi a repercussão de um desentendimento entre adolescentes famosos nas redes sociais, envolvendo Duda Guerra, namorada de Benício Huck. Uma crise de ciúmes em um grupo de influenciadores ganhou visibilidade online e gerou críticas que rapidamente atingiram também a imagem da família. O caso reforça como publicações impulsivas ou discussões privadas que se tornam públicas têm o poder de provocar consequências desproporcionais, em especial quando se está sob os holofotes da internet.

Esses episódios, infelizmente, não são exceção. Casos como esses revelam o despreparo de muitos jovens, e até de profissionais experientes, para compreender a força e o alcance de uma postagem. O que é dito ou feito na internet não fica restrito à intenção de quem publica. É lido, interpretado e ressignificado por milhares de olhares. Pode machucar, expor, destruir.

É por isso que reputação importa — e importa muito. Em um cotidiano dominado pelas redes sociais, ela se tornou o nosso maior ativo. Muito mais do que currículo ou diploma, é a reputação que sustenta a credibilidade, abre portas, inspira confiança e garante a permanência no mercado, seja para um profissional liberal ou para uma grande corporação. E o mais delicado: ela leva anos para ser construída, mas segundos para ser abalada.

A boa prática começa com o reconhecimento da responsabilidade que carregamos nas redes. Isso vale para todos: estudantes, profissionais, líderes e influenciadores. Antes de postar, é preciso refletir: esta publicação é respeitosa? Preserva a dignidade dos envolvidos? Pode ser interpretada de forma ofensiva? Constrói ou apenas gera engajamento vazio?

Além disso, é urgente que empresas, universidades e instituições públicas desenvolvam discussões sobre o uso consciente das redes. Dar essa consciência é tão importante quanto formar tecnicamente. É ter a responsabilidade com a própria imagem e com o impacto das palavras e atitudes na vida do outro.

A internet não é um lugar à parte. Ela é o agora, o reflexo do que somos, e o que mostramos ali reverbera na realidade. Não há botão de desfazer para quem viraliza negativamente. Por isso, proteger a própria reputação e a das empresas ou entidades que representamos é, também, uma forma de proteger o nosso futuro.

No fim, não se trata apenas de saber o que pode ou não pode ser publicado. Trata-se de empatia, de ética e de maturidade. Se reputação é o que falam de nós quando não estamos por perto, as redes sociais são o megafone que amplifica tudo isso, seja para o bem ou para o mal. E a escolha, quase sempre, começa no dedo que aperta o botão de “publicar”.

*Fábio Monteiro da Silva é jornalista especialista em crise de imagem e CEO da Dialum Assessoria de Imprensa & Comunicação Estratégica

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