27 de Julho de 2024

POLÍTICA Terça-feira, 11 de Junho de 2024, 08:26 - A | A

Terça-feira, 11 de Junho de 2024, 08h:26 - A | A

CAMPANHA

Se fazer irmão, estender a mão: a Câmara Municipal de Cuiabá e a solidariedade na enchente de 1974

Redação

A Câmara Municipal de Cuiabá realizou uma campanha de arrecadação de donativos e os enviou para o Estado do Rio Grande do Sul no último dia 16 de maio. Foram enviados aproximadamente duas toneladas de donativos, dentre alimentos e peças de vestuário, que se juntarão aos demais que são enviados de todos os cantos do Brasil para as vítimas da enchente que castiga há semanas o Estado gaúcho. As cenas dessa tragédia são reproduzidas diariamente, mas da mesma maneira conhecemos inúmeros gestos de solidariedade, como esse promovido pelo parlamento cuiabano.

É comum acompanharmos tragédias que são resultado de fenômenos naturais intensos e inesperados, e nós temos um grande exemplo na história de Cuiabá. Em março deste ano (2024) completaram 50 anos de uma das maiores tragédias naturais na cidade: a enchente de 1974. Esse episódio foi vastamente explorado por conta do seu aniversário de meio século. No mês de março daquele ano intensificaram as chuvas na cabeceira do rio Cuiabá e de seus afluentes, e na capital, os bairros do Terceiro, Barcelos e Várzea Ana Poupino foram os mais atingidos, ficando cobertos pelas águas e com milhares de pessoas desabrigadas e desabastecidas. Não nos propomos a priorizar a tragédia, o sofrimento das famílias que perderam suas casas e pertences, mas apresentar neste artigo o movimento de solidariedade da população local e de outras cidades, e o empenho da Câmara Municipal e de seus vereadores no atendimento aos flagelados.

Ainda no dia 13 de março de 1974, quando as águas do rio se aproximavam do nível da ponte Júlio Müller, o vereador Mário Márcio apresentou um Requerimento ao Secretário de Recursos Humanos da Prefeitura, na época sob a gestão de José Villanova Torres, indagando se haveria um programa de emergência para o atendimento aos possíveis flagelados. O que inicialmente era uma possibilidade se fez forma dois dias depois, com o ápice no dia 18 de março, quando o nível do rio Cuiabá atingiu 10,87 metros, de acordo com a Capitania dos Portos.

Na Câmara Municipal os vereadores se reuniram em sessão ordinária na noite do dia 18 de março e discutiram a calamidade que havia se instalado na cidade e prontamente buscaram atender a população desabrigada. O vereador Wilson Diniz agradeceu a imprensa que se dedicava não só a noticiar, mas a orientar a população. Antevendo que os moradores não voltariam para as suas casas (em sua maioria de adobe), Diniz sugeria que a Cohab planejasse com urgência a construção de novas moradias. Nessa sessão surgiu uma proposta por parte do vereador Mário Márcio, que era a instalação no prédio da Câmara (sede na praça Alencastro) de um posto de atendimento aos flagelados, aberto diuturnamente, com o apoio dos vereadores e funcionários. A sugestão do vereador foi atendida por unanimidade.

O entrevistado da coluna Memórias do Legislativo Cuiabano foi o ex-vereador João da Silva Torres, que viveu a tragédia de 1974, sendo inclusive uma das vítimas, já que a casa da sua família foi alagada, chegando à altura de um metro. Conta-nos que os vereadores se uniram, independente de filiação partidária, para auxiliar os flagelados e contribuir com o poder público. A proposta de se tornar um centro de apoio aos flagelados não se efetivou, até porque o prédio da Câmara era pequeno, mas os vereadores se uniram, movidos pelo sentimento de cuiabania, fazendo parte da generosidade de todos. No período posterior à tragédia os vereadores estiveram ao lado dos desabrigados na construção de suas casas, cobrando ações efetivas do poder executivo do município.

À medida em que as águas do rio Cuiabá subiam e as casas imergiam, a solidariedade do povo cuiabano emergia. Dois postos de arrecadação de donativos foram instalados: no Mercado do Porto e na Escola Modelo Barão de Melgaço. Ao mesmo tempo voluntários se apresentavam para auxiliar no socorro aos flagelados, unindo-se ao trabalho dos militares. Tal dedicação confirma-se pela sessão do dia 20 de março, quando o então vereador Roberto França – redigiu o taquigrafo – teceu “considerações a respeito do lamentável acontecimento ocorrido na Capital do Estado e cidades circunvizinhas, com o desamparo de 3.000 à 3.200 famílias, face ao transbordamento das águas do rio Cuiabá. Agradece ao povo cuiabano a solidariedade humana dispensada aos flagelados, quando todos se manifestaram e se uniram, forçando uma corrente prá frente, para aliviar o sofrimento do seu irmão, naquela hora tão dramática”.

A exemplo da campanha nacional de envio de donativos que assistimos agora para o Rio Grande do Sul, sabemos de duas cidades que mobilizaram a sua população naquele momento para angariar e enviar donativos para os cuiabanos: Campo Grande e Dourados. O vereador Francisco Miranda realçou em sua fala na sessão de 20 de março o auxílio e a solidariedade da população da cidade de Campo Grande.

O vereador Roberto França pediu aos pares que a Câmara enviasse uma Moção de Aplausos ao prefeito de Campo Grande, Levy Dias, como um reconhecimento pela sua atitude também humanitária junto às autoridades, comércio e o povo da cidade, que solidariza com os cuiabanos, promovendo grande campanha em seu benefício, com a doação de alimentos, roupas e medicamentos.

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O correspondente do jornal O Estado de Mato Grosso informava que a população, o comércio e associações da cidade se mobilizaram, que caminhões saiam às ruas pedindo donativos que eram por fim enviados para Cuiabá em aviões da Força Aérea. Da mesma forma, a população da cidade de Dourados mobilizou-se para angariar e enviar donativos para Cuiabá. O vereador Alves Ferraz, na mesma sessão, pediu aos pares que fosse enviada ao Prefeito Municipal daquela cidade uma Moção de Aplausos, pois enviaram para Cuiabá quatro veículos com víveres e medicamentos, para o atendimento aos flagelados.

Esses gestos de solidariedade de ontem e hoje serão necessários em outras oportunidades, pois infelizmente se avolumam os desastres que ocorrem em sua maioria por conta do descaso humano com o ambiente que os sustenta. Devemos sempre e por mais vezes, como diz na canção Heal The World do astro Michael Jackson: continuar enxugando o pranto dos homens, se fazendo irmão, estendendo a mão, e acender a chama da vida, para fazer a Terra inteira feliz.

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