Com a inauguração do novo Hospital Central de Cuiabá, administrado pelo Hospital Albert Einstein, a saúde pública de Mato Grosso enfrenta uma possível reconfiguração, que poderá culminar no fechamento do Hospital Estadual Santa Casa. A medida tem gerado controvérsias e resistência por parte da população e de parlamentares, que consideram a unidade hospitalar essencial para o atendimento em todo o estado, especialmente de crianças em tratamento intensivo.
A Santa Casa de Cuiabá oferece uma ampla gama de serviços de saúde, que vão desde a atenção de média à alta complexidade, abrangendo especialidades como cardiologia, cirurgia geral e pediátrica, clínica geral, fisioterapia, fonoaudiologia e hemoterapia. Com foco em pediatria, a unidade disponibiliza pronto-atendimento, ambulatório e internação, sendo considerada um importante pilar da rede pública de saúde em Mato Grosso.
Durante a pandemia de Covid-19, a unidade foi uma das principais referências no combate ao vírus no estado, atendendo mais de 127 mil pacientes. Chegou a manter 80 leitos de UTI dedicados à Covid-19 e, nesse período, limitou-se à realização de cirurgias de urgência e emergências, mantendo ainda os atendimentos oncológicos e nefrológicos em áreas isoladas da ala Covid. As cirurgias eletivas ficaram suspensas, conforme orientação do Ministério da Saúde.
A retomada parcial da normalidade ocorreu em 15 de junho de 2022, quando voltou a realizar cirurgias eletivas e restabeleceu o fluxo de atendimentos. Desde então, foram registrados mais de 120 mil atendimentos ambulatoriais, 6.402 internações, 3.003 cirurgias eletivas e 2.663 cirurgias de urgência.Recentemente, o governador Mauro Mendes (União) informou que a transferência dos serviços da Santa Casa para o novo Hospital Central já estava prevista desde que o Estado assumiu a gestão da unidade, em 2020. A efetivação da mudança está condicionada à conclusão das obras do novo hospital, enquanto a definição sobre o destino da estrutura física da Santa Casa segue em análise.
Parlamentares, no entanto, têm se posicionado contrários ao encerramento das atividades da Santa Casa. O deputado estadual e médico Lúdio Cabral (PT) ressaltou que a instituição oferece serviços que não serão contemplados pelo Hospital Central, sendo fundamental para o tratamento de centenas de crianças. Ele também apontou a necessidade de ampliação da rede pública de saúde, em vez de apenas remanejar os serviços existentes.
Em contrapartida, o secretário estadual de Saúde, Gilberto Figueiredo, confirmou que todos os serviços atualmente prestados pela Santa Casa serão transferidos para o Hospital Central quando este entrar em funcionamento. A declaração foi feita durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).
Diante da possibilidade de desativação da Santa Casa, o deputado estadual Wilson Santos (PSD) chamou atenção para a importância histórica da unidade, a mais antiga do Centro-Oeste. Construída entre 1815 e 1817 pelo capitão-general português João Carlos Augusto de Oyenhausen-Gravenburg, a instituição filantrópica passou a ser mantida pelo Governo do Estado em 2019, por meio de uma requisição administrativa, além de contar com apoio municipal, federal e da iniciativa privada.
Wilson também alertou autoridades da Assembleia Legislativa, da Câmara Municipal e da Prefeitura de Cuiabá sobre a necessidade de se buscar alternativas para que o hospital não seja fechado, considerando sua longa tradição e papel essencial na saúde pública.
A Prefeitura de Cuiabá, por sua vez, avalia possibilidades de aproveitamento do prédio da Santa Casa. Uma das alternativas seria a transferência do Hospital São Benedito para o local. O prefeito Abílio Brunini (PL) destacou que essa possibilidade ainda depende de uma análise mais aprofundada das condições estruturais do imóvel. Além disso, o governo estadual teria se comprometido a repassar os equipamentos da Santa Casa para reforçar a infraestrutura de saúde da capital.
Em visita à Casa de Leis, Brunini buscou apoio dos deputados estaduais para garantir o reaproveitamento dos equipamentos hospitalares que permanecerão na Santa Casa após a transição para o novo hospital. Também foi discutida a proposta de transformar a unidade em um Centro Médico Infantil, mas o prefeito esclareceu que a Prefeitura já está concluindo a construção de um hospital infantil próximo ao Pronto-Socorro Municipal, com estrutura mais ampla.
Mesmo diante da indefinição sobre o futuro da Santa Casa, a Prefeitura reconhece o valor estratégico do imóvel e considera diversas possibilidades de uso para o espaço, como a realização de cirurgias eletivas e atendimentos programados. A demanda por serviços do Hospital São Benedito, por exemplo, foi citada como uma das motivações para essa possível realocação.