O aluguel por temporada deixou de ser tendência para se tornar realidade consolidada nas cidades brasileiras — e com isso surgem novos desafios e responsabilidades, principalmente quando essa modalidade ocorre em condomínios residenciais. Mais do que abrir as portas de um imóvel, ser anfitrião é também promover a harmonia entre hóspedes, moradores e administradores.
Falo com base na experiência. Desde 2019, atuo como anfitriã em Mato Grosso por meio do projeto Estadias MT. Nesse tempo, aprendi que o sucesso do aluguel por temporada em condomínios começa com um princípio básico: o respeito às regras internas.
Antes de anunciar um imóvel, analiso com atenção o regimento interno e, sempre que necessário, busco o diálogo com a administração do condomínio. A transparência é fundamental.
Também faço questão de orientar os hóspedes com antecedência, fornecendo regras claras, materiais explicativos e canais diretos de contato. Essa postura preventiva reduz atritos e mostra que a hospitalidade pode ser sinônimo de responsabilidade.
Ainda assim, nem sempre o cenário é fácil. Em alguns casos, a locação por temporada enfrenta resistência ou mesmo proibições, muitas vezes motivadas por desinformação. Vale lembrar que a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/1991), em seu artigo 48, assegura ao proprietário o direito de usar e dispor de seu imóvel, inclusive para fins de locação por curta duração — salvo exceções legais devidamente fundamentadas.
Quando surgem impasses, minha postura é sempre conciliadora. Mostro que é possível conciliar os interesses do condomínio com a atividade de locação, desde que haja organização, comunicação e comprometimento. Mas também sei reconhecer quando não há abertura ao diálogo — nesses casos, prefiro atuar em ambientes receptivos, onde o profissionalismo do anfitrião seja valorizado.
A boa gestão começa na triagem dos hóspedes e na elaboração de contratos objetivos. Um check-in bem conduzido, um guia de convivência claro e a disponibilidade para solucionar eventuais problemas fazem toda a diferença. Afinal, hospitalidade de verdade nasce do equilíbrio entre liberdade e responsabilidade.
O aluguel por temporada não é uma ameaça, mas uma oportunidade. Em vez de proibir, o caminho mais sensato é regulamentar. Condomínios que adotam regras claras, ao invés de vetos genéricos, estão mais preparados para lidar com essa nova realidade — e até mesmo se beneficiar dela, agregando valor ao imóvel e à experiência de quem visita.
A hospitalidade está mudando. E quem se adapta com responsabilidade participa ativamente dessa transformação. É esse o papel que escolhi assumir como anfitriã: ajudar a construir um ambiente mais aberto, respeitoso e eficiente para todos.
Vanessa Suzuki é jornalista e anfitriã na plataforma Airbnb desde 2019