31 de Julho de 2025

POLÍCIA Quarta-feira, 30 de Julho de 2025, 15:54 - A | A

Quarta-feira, 30 de Julho de 2025, 15h:54 - A | A

NA CARA DURA

Ex-presidente da Unimed Cuiabá entregava pacotes de dinheiro vivo para depósitos fracionados

Ana Carolina Guerra
Resumo

O ex-presidente da Unimed Cuiabá, Rubens Carlos de Oliveira Júnior, é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como responsável por um esquema de lavagem de dinheiro operado dentro da própria cooperativa médica entre o final de 2021 e o início de 2023. As suspeitas envolvem entregas mensais de pacotes de dinheiro em espécie, entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, a funcionárias da empresa, com a ordem para que os valores fossem fracionados e depositados em contas bancárias pessoais dele, em instituições como Banco do Brasil, Santander e Safra.

Segundo o MPF, a ação tinha o objetivo de ocultar a origem ilícita dos recursos, supostamente provenientes de fraudes contábeis, superfaturamento de contratos e desvios patrimoniais. A prática de fracionamento, conhecida como “smurfing”.

smurfing, é uma tática utilizada para driblar os sistemas de controle do Banco Central e dificultar a identificação de movimentações financeiras suspeitas.

Em depoimento, uma funcionária do setor de contas a pagar da Unimed afirmou que o uso de dinheiro em espécie na instituição era raro, limitado a emergências e valores pequenos. No entanto, confirmou que a gerente Ivete ou a superintendente Ana Paula Parizzotto iam até a sala de Rubens e retornavam com pacotes de cédulas.

“Depois, elas iam até o setor da depoente, entrando na sala, para contar os valores e distribuí-los via depósito a duas ou três contas dele; isso era visto por todos como algo anormal, mas subentendia-se que não se podia questionar”, relatou.

Outra testemunha, uma ex-coordenadora financeira, também afirmou ter ajudado no processo de contagem e preparação dos depósitos. “Essas contagens ocorriam aproximadamente de dez em dez dias, ou quinze em quinze dias”, afirmou, dizendo que participou da operação em pelo menos três ocasiões. Em outras cinco oportunidades, disse ter recebido diretamente os valores das mãos de Rubens, sempre para depósito em contas de sua titularidade.

De acordo com os procuradores da República Pedro Melo Pouchain Ribeiro e Thereza Luiza Fontenelli Costa Maia, há “fortes indícios quanto à origem criminosa desses recursos”, diretamente ligados a pelo menos 40 atos de estelionato e fraudes contratuais com prestadores de serviço da Unimed.

O MPF ainda aponta que Rubens e Ana Paula Parizzotto atuaram de forma deliberada na dissimulação da origem ilícita dos recursos, e não descarta a possibilidade de que os valores tenham sido repassados posteriormente a outros ex-gestores também investigados: Suzana Aparecida Rodrigues dos Santos Palma (ex-diretora administrativa financeira), Jaqueline Proença Larrea (advogada) e Eroaldo de Oliveira (ex-CEO).

“Tem-se que os valores ilicitamente obtidos (...) tiveram sua origem criminosa dissimulada diretamente por Rubens Carlos de Oliveira Júnior e Ana Paula Parizzotto em favor de todos os integrantes da organização criminosa, com a respectiva ocultação e colocação através de entidades financeiras por meio de fracionamento de depósitos, e, muito provavelmente, sua posterior distribuição”, afirma o MPF.

Operação Bilanz

A série de revelações é fruto da Operação Bilanz, deflagrada pela Polícia Federal em outubro de 2023. A ofensiva teve como alvos Rubens Carlos de Oliveira Júnior, Ana Paula Parizzotto, Jaqueline Larrea, Suzana Palma, Eroaldo de Oliveira e a contadora Tatiana Bassan. Todos são investigados por organização criminosa, falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro.

A investigação foi iniciada após denúncia da atual gestão da Unimed Cuiabá, liderada pelo presidente Carlos Bouret. Uma auditoria externa constatou que o balanço contábil de 2022 havia sido “maquiado”. Enquanto o documento oficial indicava superávit de R$ 370 mil, na realidade, a cooperativa acumulava um déficit de aproximadamente R$ 400 milhões.

As investigações seguem em andamento. O MPF e a Polícia Federal buscam identificar o destino final dos recursos desviados e aprofundar o rastreamento do patrimônio dos envolvidos. Até o momento, o MPF não confirmou se os acusados irão responder a novas denúncias, além das já existentes no inquérito principal da Operação Bilanz.

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