Em uma entrevistou concedida ao TV Única o deputado estadual, Eduardo Botelho (União Brasil), para um papo franco e direto sobre a atual conjuntura política nacional e estadual. Em meio à efervescência causada pelas recentes medidas cautelares contra o ex-presidente Bolsonaro, o deputado, figura de destaque no União Brasil e na centro-direita, compartilha sua visão sobre os impactos dessas ações da justiça no movimento político de direita, além das consequências para Mato Grosso. Com uma análise crítica e ponderada, também aborda temas como o cenário eleitoral de 2026, os desafios das obras urbanas em Cuiabá e a gestão municipal atual. A entrevista revela um olhar centrado, distante dos extremos, e um compromisso com o equilíbrio e o progresso para o estado.
Centro Oeste Popular – Com a adoção de medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, como o senhor, que é uma figura de destaque no União Brasil e na direita, avalia a atuação do Judiciário neste caso? O senhor acredita que essas ações podem enfraquecer o movimento da direita no país, como indicam algumas pesquisas divulgadas nesta última semana? E quais podem ser os reflexos ou consequências diretas para o cenário político de Mato Grosso?
Eduardo Botelho – Olha, enxergo essa situação com bastante equilíbrio. Não me identifico com extremismos, nem da direita, nem da esquerda. Me considero mais centro-direita, mas sem extremismos. Quanto ao momento que estamos vivendo, vejo com preocupação. Temos, por exemplo, um presidente dos Estados Unidos que representa um pensamento imperialista, voltado exclusivamente para os interesses americanos. Até entendo que os americanos o aplaudam. Mas ver brasileiros ovacionando o Trump me parece contraditório. Afinal, ele não está pensando no Brasil. Ele quer que o país dele lucre e domine, e que o resto do mundo — inclusive o Brasil — sirva a esse propósito.
As ideias dele, guardadas as devidas proporções e o contexto histórico, têm um tom nacionalista extremo, parecido com o de figuras autoritárias do passado, como Hitler, que pregava a supremacia alemã. O Trump defende algo semelhante em relação à supremacia americana e, em muitos casos, à supremacia branca. Isso é muito sério. Claro que ele tem qualidades e até toma algumas posições interessantes em certos momentos. Mas não podemos esquecer: ele defende os interesses do país dele, não os nossos.
Centro Oeste Popular – Deputado, com toda essa divisão que se formou, principalmente envolvendo a família Bolsonaro e a extrema direita, como o senhor avalia esse momento? O senhor mesmo mencionou que se posiciona mais como centro-direita, mas a extrema direita tem ganhado força e adotado uma postura bastante intensa. Qual é a sua leitura sobre esse cenário?
Eduardo Botelho – Vejo exageros dos dois lados. O Supremo foi duro demais em algumas penas, especialmente para quem participou daqueles atos, que, em sua maioria, foram pessoas influenciadas, enquanto crimes mais graves às vezes têm penas menores. Quem tinha poder e dinheiro nem foi, muitos deputados mandaram outras pessoas. Acho que o Supremo passou do limite. Mas também há exagero no outro lado. Por exemplo, o filho do Bolsonaro defendendo lá fora coisas que só vão encarecer o custo de vida do brasileiro — o que não faz sentido. Está tudo meio confuso. O que precisamos é trabalhar pelo Brasil, por um país melhor para todo mundo. O Supremo precisa agir com mais cuidado e equilíbrio.
Centro Oeste Popular – Deputado, já estamos vendo o início das articulações para 2026, eleição para presidente, deputado e senador, e parece que este ano o movimento começou até antes do que nas eleições anteriores, com vários nomes já confirmados. Na última eleição, o senhor disputou a Prefeitura de Cuiabá, mas não foi eleito. Com esse novo ciclo se aproximando, o que o senhor sente no coração em relação a 2026?
Eduardo Botelho – Participei de uma eleição na qual tinha uma chance real de ganhar, mas acabei nem indo para o segundo turno. Isso ficou para trás. A vida é assim, não dá para ficar chorando pelo leite derramado. Perder uma eleição não é fácil, principalmente porque abri mão de tudo na Assembleia para concorrer e tinha um projeto muito bom para Cuiabá. Não tenho mágoa de ninguém. Acredito que houve erros de todos os lados, inclusive meus. Venho de uma trajetória difícil, já morei na rua, trabalhei muito para chegar até aqui, então não tenho do que reclamar.
Agora, o foco é a reeleição para deputado estadual. Não tenho interesse em disputar para deputado federal, senador ou governador, pois acho que não tenho tamanho ou abrangência para esses cargos. Dentro do partido, já temos nomes fortes para essas posições, como Mauro Mendes, Piveta e Jaime Campos. Então, minha estratégia é focar na reeleição para deputado estadual.
Centro Oeste Popular – A obra do BRT e toda essa confusão certamente vão aparecer na campanha do ano que vem, não tem como fugir disso. Mas pensando na realidade do cidadão comum, daquele que depende do ônibus e enfrenta o trânsito todos os dias, a situação tem gerado muita insatisfação, principalmente pelos atrasos. Na sua avaliação, como está o andamento dessa obra, que é tão polêmica e carrega o peso da herança do VLT? E a licitação, já foi concluída?
Eduardo Botelho – Olha, pegar uma obra como a do VLT foi assumir um verdadeiro embrólio. Era um projeto feito com base em corrupção, totalmente inviável tecnicamente para a Baixada Cuiabana. Inicialmente seria o BRT, mas mudaram para o VLT comprando apoio político, gastando bilhões e praticamente nada foi feito. O governador, então, optou por algo tecnicamente mais viável, que é o BRT.
Só que fazer uma obra desse porte dentro de uma área urbana como Cuiabá, sem sequer ter um mapeamento completo do que existe no subsolo — como na região da Prainha — é desafiador. Não há projetos executivos detalhados. Você pergunta para a Prefeitura o que tem ali embaixo e ninguém sabe ao certo. Além disso, a primeira empresa contratada, apesar de experiente, errou nos cálculos, o que levou à rescisão do contrato. Tudo isso causou atrasos. Mas, apesar das dificuldades, acredito no BRT, acredito que vai sair e será, sim, entregue à população.
Centro Oeste Popular – Outro ponto crítico em relação à mobilidade é o Porto do Inferno, que já é um gargalo histórico. Na semana passada, o secretário Marcelo Padeiro deu uma entrevista polêmica dizendo que não há certeza sobre a construção do túnel, o que surpreendeu até o governador Mauro Mendes, que afirmou já ter visto o projeto. Segundo o secretário, há um problema técnico: o paredão não teria resistência suficiente para suportar um túnel ou até mesmo uma ponte estaiada, e seria necessário recuar cerca de 100 metros. Além disso, há entraves com órgãos ambientais como o Ibama e o ICMBio. Diante desse cenário, criou-se um clima de incerteza. O senhor tem alguma informação atualizada sobre essa situação?
Eduardo Botelho – Está definido: vai ser túnel. Foi isso que o governador nos confirmou nas últimas conversas. A decisão já está tomada e a obra deve ser lançada em breve, com a elaboração do projeto e, depois, a execução. Na minha opinião, o túnel é a solução mais viável. Infelizmente, houve um erro de avaliação desde o início e esse túnel já deveria estar sendo concluído. A verdade é que houve falha por parte da Secretaria, e isso precisa ser reconhecido.
Centro Oeste Popular – Existe alguma previsão sobre os gastos que foram feitos por conta desses erros, deputado? E como o senhor pretende lidar com as críticas, levando em conta que estamos entrando num ano eleitoral? Afinal, todos que participaram de alguma forma devem enfrentar essas cobranças.
Eduardo Botelho – Erros desse tipo acontecem. Não é exclusividade nossa. No mundo todo, a engenharia às vezes faz uma avaliação inicial e, na hora de executar, percebe que não vai dar certo. Isso é normal. O que não pode é errar a ponto de construir algo que coloque vidas em risco. Isso, sim, é inaceitável — e foi nesse sentido que o secretário se posicionou.
Centro Oeste Popular – Deputado, voltando um pouco para Cuiabá: a gestão do prefeito Abílio tem sido marcada por algumas polêmicas, inclusive embates com categorias como a dos professores. O senhor, que já foi rival dele nas urnas, como avalia essa gestão? Especialmente no que diz respeito ao superendividamento e à situação de calamidade relatada pelos profissionais da educação?
Eduardo Botelho – Vejo que há um certo exagero nessa ideia de que a Prefeitura está em situação crítica. Não vejo dessa forma. Na verdade, percebo que algumas coisas estão andando. Na parte financeira, por exemplo, o prefeito tem conseguido sanear a gestão. Escolheu um bom secretário, o Marcelo Bussiki, que é muito competente e tem colocado as finanças em ordem. O secretário de Serviços Públicos, o Felipe Wellaton, também está atuante, trabalhando bastante na limpeza e organização da cidade.
É claro que o Abílio tem algumas características pessoais que o levam a confrontos que, na minha opinião, são desnecessários. Mas isso faz parte do estilo dele. Prefiro não entrar nesse mérito, porque cada gestor tem seu jeito. No geral, vejo que a gestão está avançando. Temos que acompanhar as entregas maiores, como a meta de asfaltar 100% da cidade, resolver a questão do CERN e os gargalos no trânsito. Já anunciou dois viadutos, então acredito que é uma gestão que está caminhando. Minha avaliação geral é de que está indo bem. No meu ponto de vista, acredito que deveria evitar certos embates, que não ajudam. Mas isso faz parte da personalidade — assim como acontece com figuras como o próprio Bolsonaro. É do estilo, não vai mudar.