25 de Junho de 2025

POLÍTICA Terça-feira, 24 de Junho de 2025, 17:02 - A | A

Terça-feira, 24 de Junho de 2025, 17h:02 - A | A

ESCÂNDALO

Deputado Júlio Campos defende investigação sobre fraudes no consignado e diz que o Estado tem, sim, responsabilidade

Parlamentar diz que falhas podem ter ocorrido na fiscalização da Secretaria de Planejamento e que Estado precisa responder pelos atos; também cobra mais articulação política no União Brasil

Maria Cardoso | Redação

Após denúncias de servidores estaduais que relataram cobranças abusivas, contratos inacessíveis e valores descontados muito acima dos montantes recebidos, uma investigação conduzida pelo Ministério Público (MP) e pela Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPE-MT) revelou indícios graves de irregularidades nos empréstimos consignados do Estado.

A apuração, formalizada em maio junto à Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) e à agência Desenvolve-MT, responsável pelo cartão MTCard, aponta casos em que servidores pediram empréstimos de R$ 12 mil, receberam apenas R$ 3 mil, mas estão sendo cobrados por dívidas superiores a R$ 24 mil. Em alguns contratos, a diferença entre o valor recebido e o total descontado ultrapassa 1.000%.

Diante da gravidade das denúncias, o Ministério Público e a Defensoria pedem providências urgentes, como a suspensão imediata das operações, que estariam ocorrendo desde 2021 e continuam ativas até hoje.

Em entrevista concedida, o deputado estadual Júlio Campos (União Brasil) se manifestou de forma crítica sobre o escândalo dos empréstimos consignados envolvendo servidores públicos estaduais. Ao ser questionado sobre as declarações do governador Mauro Mendes, que classificou como “conversa fiada” a responsabilidade do governo do Estado sobre a fraude, o deputado foi direto:

“Olha, acredito que a lei prevê algumas responsabilidades do Estado, né? Estamos confiantes no trabalho dos auditores do Tribunal de Contas, que, a cada dia que aprofunda, encontra mais coisas estranhas nesses consignados. Haverá uma visão mais rigorosa, não só por parte do governo, que resolveu suspender o pagamento de mais três ou quatro subsidiárias da empresa do Consignos. Acredito que, a partir de agora, teremos que tomar uma providência rigorosa, independente de ter ou não envolvimento de pessoas do governo”.

O parlamentar confirmou que estará presente na audiência marcada para a próxima sexta-feira, que contará com a convocação do secretário de Planejamento, Basílio Bezerra. Ele defendeu a presença do secretário ao citar: “Quem não deve, não teme”, referindo-se à importância de o gestor ir à Assembleia Legislativa “esclarecer à sociedade de Mato Grosso, porque pode haver servidores da sua área envolvidos em algumas coisas estranhas”.

Ao ser questionado sobre uma possível falha na fiscalização por parte da Secretaria de Planejamento, mesmo sem envolvimento direto do secretário, Júlio afirmou que sim, haveria falhas, e que seria bom haver um esclarecimento da parte de Basílio.

No entanto, o deputado foi cauteloso ao ser perguntado se defende o afastamento do secretário:

“Não, nem afastado. Ele veio aqui esclarecer, né? Depois, se houver, assim, comprovado algum envolvimento do secretário, aí é um assunto realmente a ser estudado nesse sentido”.

Júlio também se pronunciou sobre a possibilidade de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Contrariando o governador, que afirmou que falar em CPI é “conversa fiada”, o deputado destacou que essa é uma prerrogativa legítima do Poder Legislativo.

Segundo ele, no momento ainda não há elementos concretos e nem as oito assinaturas necessárias para a abertura da comissão. Júlio disse acreditar que, dentro de aproximadamente 15 dias, quando o Tribunal de Contas encaminhar seu parecer ao Legislativo, será possível avaliar se cabe ou não a abertura da CPI.

Durante a entrevista, ele também comentou sobre a revelação de que o Estado teria recebido até 8% de lucro sobre operações de crédito consignado feitas por servidores. O deputado afirmou que não tinha conhecimento prévio sobre isso e que foi uma grande surpresa:

“Foi uma surpresa muito grande dizerem que, nesses empréstimos consignados feitos por servidores públicos do Estado, haveria uma taxa de 3%, 4%, 5% destinada ao governo”.

Embora reconheça que a cobrança de taxas das instituições financeiras seja uma prática comum, classificou os 8% como "exagerados", alertando que isso encarece os custos para os servidores e, consequentemente, quem paga é o consumidor. Júlio finalizou dizendo:
“Sempre, qualquer cobrança de imposto não é o patrão quem paga, é o consumidor”.

Além do tema dos consignados, o parlamentar fez duras críticas à inércia do União Brasil em Mato Grosso. Segundo ele, o partido não tem se movimentado para as eleições de 2026 e cobrou mais liderança do governador Mauro Mendes, que preside a sigla no Estado:

“Estamos parados. Agora nós estamos reduzidos a quatro deputados estaduais e mais dois suplentes. Fora disso, onde nós vamos achar candidatura?”

Segundo o deputado, a reunião da executiva estadual, marcada recentemente, contou com a presença de vários líderes políticos, mas o governador não compareceu:

“No momento da reunião, apenas eu, Botelho, Dilmar, Jaime Campos, Gisela, Assis, Fábio Garcia comparecemos, mas o governador, que é o presidente do partido, não apareceu”.

O deputado ainda alertou que a ausência de articulação pode custar caro ao partido:
“Se não houver um trabalho de atração, de visita ao interior, de convocar ex-prefeitos, vereadores fortes, no ano que vem haverá apenas um resultado: não iremos repetir nem a bancada e podemos cair de quatro deputados para dois”.

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